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(Pó)esia - XVI


Escrevo sobre
a poeira que habita
os cantos do pensamento,
catando em cada passo,
as palavras exatas
para formar minha trajetória.
Feito a própria poeira
que escolhe os grãos de pó
a serem depositados
em todos os lugares possíveis,
tanto na luz,
quanto onde não se vê.
Assim, aos poucos,
faço o meu melhor,
(pó)esia.

(Pó)esia - XV


O jogo da gravidade
é grave, engravida a mente,
não mede
e nem pesa as palavras
antes de agir.
Vence todas as densidades
existentes do carbono,
o microfilme, uma grande angular.
Despacha também o tempo, que alvorece e escurece
a medida que
o calendário inevitavelmente
grava a idade.
A gravidade é grave
e também aguda.
Ela grava e também apaga
a vaidade, sem pesar,
nem levitar.

(Pó)esia - XIV


Uso essas velhas palavras
para escrever esses novos versos
e sorrir após o ponto final.
Tenho ideias velhas
que jamais serão novas novamente.
Penso em aliterações
que são alterações
para a minha literatura.
Queria usar antigas metáforas
e falar da simplicidade
do meu cotidiano,
mas não é simples.
É fazer um novo poema velho
e me contentar com as imagens
que a linguagem me mostra
dia após dia.

(Pó)esia - XIII


O que adianta
usar a vírgula
se as frases sempre
iniciam de maneira
errada?

Do que adianta
guardar alguns minutos
se gastamos horas
para que isso
aconteça?

Adianta viajar
e ainda permanecer
no local que não
deveria ter
saído?

Não é preciso interrogações
quando a própria pergunta
leva consigo as respostas
que ela deseja escutar.

(Pó)esia - XII


Me disseram
pra escrever um texto
vazio, sem sentido
nem motivo.
Assim o fiz:
sem música,
sem verdades
e sem prazer.